É quizila do santo: vivências e interdições alimentares em um candomblé angola
DOI:
https://doi.org/10.35953/raca.v3i1.116Palavras-chave:
Quizila, Tabu alimentar; Candomblé; Grupo com Ancestrais do Continente AfricanoResumo
O estudo tem como objetivo contribuir para a compreensão dos significados das interdições alimentares nas experiências alimentares de afro-religiosos do candomblé. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa em caráter de estudo de caso, realizado em um terreiro de candomblé de tradição cultural angola-banto. A pesquisa de campo baseou-se em entrevistas semiestruturadas direcionadas aos afro-religiosos, além de observações de campo. Para análise do material empírico foram adotados procedimentos de análise de conteúdo e abordagem compreensiva. As práticas alimentares no candomblé comportam interdições denominadas quizilas pautadas na relação que o alimento estabelece com os nkisi, entidades ancestrais. No estudo caracterizam-se as quizilas de âmbito coletivo que cumprem significado de identidade grupal e comunhão coletiva e ancestral; as quizilas profiláticas ou resguardos alimentares dos ritos de passagem e as quizilas pessoais relativas aos caminhos espirituais de cada indivíduo. Evidenciam-se sensibilizações somáticas promovidas pelas quizilas nos afro-religiosos apontando a ação dos ancestrais pelos alimentos. Como considerações finais, o estudo demonstrou que os significados das quizilas perpassam todo o viver alimentar dentro da lógica que concilia com uma cosmovisão em que elementos como a ancestralidade e a noção de imaterialidade perpassam as relações alimentares. A atenção às quizilas pelos religiosos ocorre num sentido de promover a resposta esperada dos nkisi mediante uso adequado dos alimentos nos rituais litúrgicos e na vida cotidiana.
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