Impactos da pandemia de Covid-19 na alimentação e comensalidade de servidores de instituições federais de Brasília, Brasil

Autores

  • Ana Carolina Floresta Lima
  • Denise Oliveira e Silva

Palavras-chave:

Hábitos Alimentares, Servidores Públicos, Trabalho Remoto, Comensalidade, Pandemia Covid-19

Resumo

A maior pandemia vivida pela humanidade, neste século, trouxe novos modos de vida no cotidiano das pessoas em todo o mundo. Essa situação determinou medidas de prevenção, interferindo no trabalho, nos relacionamentos interpessoais, coletivos, familiares, domésticos e nos cuidados de saúde e estilo de vida. Com o objetivo de compreender a influência da pandemia nas rotinas de hábitos alimentares de servidores de instituições públicas federais, participantes de um programa de promoção à saúde, bem como descrever o impacto do compartilhamento de seus espaços sociais na experiência da comensalidade desses indivíduos, foram realizadas entrevistas em profundidade, online, com informantes-chave, utilizando-se da abordagem da fenomenologia hermenêutica, com o propósito de dialogar sobre o comer e o cozinhar durante o fenômeno pandêmico da Covid-19. A mudança drástica, nas rotinas familiares, impôs modificações nos processos de aquisição, armazenamento, preparo e consumo alimentar, com destaque da revalorização do hábito de cozinhar e maior tempo de convivência familiar, ao passo que também gerou desconfortos com sobrecarga de atividades diversas, além de estresse e ansiedade, induzidas pelas adversidades do contexto. O cenário imposto, pelas políticas de distanciamento social, interferiu na rotina doméstica de forma distinta, considerando cada contexto familiar e exigências relativas à produtividade. Foram variáveis as consequências deste processo; todavia, a maioria dos indivíduos entrevistados, apesar de uma adaptação inicial conturbada, percebeu que houve mudanças positivas e favoráveis à adoção de hábitos mais saudáveis em consequência do trabalho remoto e do resgate da comensalidade familiar, que se apresentava contrária ao caminho imposto pelas sociedades industriais modernas.

Biografia do Autor

Ana Carolina Floresta Lima

Mestre em Políticas Públicas em Saúde e Analista Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 

Denise Oliveira e Silva

Pesquisadora Titular da Diretoria Regional de Brasilia da Fundação Oswaldo Cruz tem mestrado em Ciência da Alimentação pela Universidade de Gand Belgica (1992), Mestrado em Ciências da Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, da FIOCRUZ (1995), Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasilia(2000) e Pós-doutorado em Antropologia da Alimentação pela Ecole des Hautes Etudes en Science Sociales de Paris, França (2012).

Referências

Rodríguez-Pérez et al. Changes in dietary behaviours during the COVID-19 outbreak confinement in the Spanish COVIDiet study. Nutrients. 2020;12(6):1–19

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios (PNAD ) - COVID 19. Disponível em https://covid19.ibge.gov.br/pnad-covid/ [Acesso em 20 de maio de 2020].

Antunes et al. Exploring lifestyle habits, physical activity, anxiety and basic psychological needs in a sample of portuguese adults during covid-19. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(12):1–13.

Ammar et al.. (2020). Effects of COVID-19 Home Confinement on Eating Behaviour and Physical Activity: Results of the ECLB-COVID19 International Online Survey. Nutrients, 12(6), 1583. https://doi.org/10.3390/nu12061583

Phillipou et al. Eating and exercise behaviors in eating disorders and the general population during the COVID-19 pandemic in Australia: Initial results from the COLLATE project. Int J Eat Disord. 2020;53(7):1158–65.

Butler MJ, Barrientos RM. The impact of nutrition on COVID-19 susceptibility and long-term consequences. Brain Behav Immun [Internet]. 2020;87(April):53–4. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.bbi.2020.04.040

Bhutani S, Cooper JA. COVID-19–Related Home Confinement in Adults: Weight Gain Risks and Opportunities. Obesity. 2020;28(9):1576–7.

Muscogiuri et al. Nutritional recommendations for CoVID-19 quarantine. Eur J Clin Nutr [Internet]. 2020;74(6):850–1. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/s41430-020-0635-2

Malta et al. A pandemia da COVID-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros adultos: um estudo transversal, 2020. Epidemiol e Serv saude Rev do Sist Unico Saude do Bras. 2020;29(4):e2020407.

Juul et al. Ultra-processed food consumption and excess weight among US adults. Br J Nutr. 2018;120(1):90–100.

Steele et al. Mudanças na alimentação na coorte NutriNet Brasil na vigência da COVID-19. Rev Saude Publica. 2020;1–8.

Andrade CC, Holanda AF. Apontamentos sobre pesquisa qualitativa e pesquisa empírico-fenomenológica. Estud Psicol 2010 ;27(2):259–68. Available at: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/XLzgL8vX67XRNsb83MLk7mn/

González AD. Ser docente na área da saúde: uma abordagem à luz da fenomenologia heideggeriana. Universidade Estadual de Londrina, Paraná. 2012. 115f. Tese Londrina. Londrina, 2012. Disponível em: https://pos.uel.br/saudecoletiva/teses-dissertacoes/ser-docente-na-area-da-saude-uma-abordagem-a-luz-da-fenomenologia-heideggeriana/ Acesso em: 02 de maio de 2021.

Correia E. Uma visão fenomenológica-existencial em psicologia da saúde ?! 2006;3:337–41.

World Health Organization (Who). Obesity, preventing and managing theo global epidemic. 2020. Disponível em https://iris.who.int/handle/10665/42330. Acesso em 20 mar 2024

Souza JZ de. Perspectivas e desafios do teletrabalho na administração pública federal diante da pandemia da Covid-19. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso. ENAP: Brasília, 2020. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/6098

Brasil. Ministério da Economia. Instrução Normativa Nº 65, de 30 de julho de 2020. Diário Oficial da União. 2020. Edição 146. Seção 1: 21

Ipsen et al. Six key advantages and disadvantages of working from home in europe during covid-19. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(4):1–19.

Pierce M at al. Mental health before and during the COVID-19 pandemic: a longitudinal probability sample survey of the UK population. Lancet Psychiatry. 2020 Oct;7(10):883-892. doi: 10.1016/S2215-0366(20)30308-4. Epub 2020 Jul 21. PMID: 32707037; PMCID: PMC7373389.

Ferrante MJ. Food Acquisition and Daily Life for U.S. Families with 4-to 8-Year-Old Children during COVID-19: Findings from a Nationally Representative Survey. 2021.

21. Scarmozzino F, Visioli F. Covid-19 and the subsequent lockdown modified dietary habits of almost half the population in an Italian sample. Foods. 2020;9(5).

ENAP. 2020. Pesquisa sobre teletrabalho: resultados preliminares p. https://repositorio.enap.gov.br/jspui/handle/1/5843

Herpin N, Fischler C. L’homnivore. Vol. 32, Revue Française de Sociologie. 1991.

Woortmann EF. A comida como linguagem. Habitus [Internet]. 2013;11(1):5–17. Disponível em: http://seer.ucg.br/index.php/habitus/article/viewFile/2844/1737

Brasil. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira Guia Alimentar para a População Brasileira [Internet]. Ministério da Saúde. 2014. 156 p. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.foodchem.2019.01.190%0Ahttp://www.visaemdebate.incqs.fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/408/163%0Ahttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-20612016000400563&lng=en&tlng=en%0Ahttp://dx.doi.org/10.31

IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017 - 2018 - Primeiros Resultados. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101670. Acesso em 22 de maio de 2022

Poulain J. O espaço social alimentar: um instrumento para o estudo dos modelos alimentares Food social space : a tool to study food patterns. 2003;16(3):245–56.

Pena FG, Saraiva LAS. Ressignificação, consumos e silêncios da cozinha doméstica. Organ Soc. 2019;26(90):558–78.

Julia et al. Gender differences in global estimates of cooking frequency prior to COVID-19. 2021.

Faltin, AO, Gimenes-Minasse MH. Comensalidade, Hospitalidade e Convivialidade: Um ensaio Teórico. Rosas dos Ventos, 2019. 11(3): 634-646.

Fischler, C. Commensality, society and culture. Social Science Information, 2011. 50(3-4), 528–548.

Flandrin, JL, Montanari M. História da Alimentação. São Paulo; Liberdade, 1998.

Danesi G. Commensality in French and German young adults: an ethinographic study. Hospitality & Society, 2021 1(2), 153-172.

Horta PM, Souza JPM, Rocha LL ML. Ambiente alimentar digital de uma metrópole brasileira: disponibilidade de alimentos e estratégias de marketing utilizadas por apps de entrega. Public Health Nutr. 2021 Feb;24(3):544-548. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32900419/

Gilio L. A inflação dos alimentos no Brasil em 2020. Veja Negócios, 2020. Disponível em: < https://veja.abril.com.br/coluna/agro-global/a-inflacao-dos-alimentos-no-brasil-em-2020#google_vignette > [Acesso em 20 maio de 2020].

Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN). II VIGISAN – Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, 2022 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2022/10/14/olheestados-diagramacao-v4-r01-1-14-09-2022.pdf [Acesso em: 3 maio 2022].

Agência Brasil. Gandra A. Pesquisa revela que 19 milhões passaram fome no Brasil no fim de 2020. 2021.Disponível em : https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-04/pesquisa-revela-que-19-milhoes-passaram-fome-no-brasil-no-fim-de-2020. [Acesso em: 15 de abril de 2021].

Downloads

Publicado

06-09-2024

Como Citar

1.
Lima ACF, Oliveira e Silva D. Impactos da pandemia de Covid-19 na alimentação e comensalidade de servidores de instituições federais de Brasília, Brasil. Rev. Alim. Cult. Amer [Internet]. 6º de setembro de 2024 [citado 21º de novembro de 2024];5(1):46-70. Disponível em: https://raca.fiocruz.br/index.php/raca/article/view/192

Edição

Seção

Artigos