Características de hospitalidade e comensalidade no consumo coletivo de cervejas: cerveja tradicional africana e cauim
DOI:
https://doi.org/10.35953/raca.v3i1.118Palavras-chave:
Hospitalidade, Cerveja, Consumo ritual, Bebidas, ComensalidadeResumo
A comensalidade, como dimensão da hospitalidade, é a partilha de comida e bebida, universalmente celebrada em culturas e religiões ao redor do globo. A cerveja, presente nos momentos de fruição, socialização e lazer, transpõe esses conceitos modernos de consumo por meio do consumo simbólico de algumas variantes arcaicas, como as cervejas de sorgo e painço africanas e o cauim indígena sul-americano – tecnicamente, ambos cervejas. O consumo ritualizado dessas bebidas oferece pontes interessantes com conceitos de hospitalidade e comensalidade, permitindo estabelecer relações entre o ritual e a dádiva, pedra filosofal da hospitalidade. O ensaio divide-se em quatro partes: uma introdução aos conceitos de hospitalidade, comensalidade e cerveja; uma segunda parte sobre o consumo coletivo de cervejas africanas; uma terceira parte sobre as bebidas fermentadas ameríndias, em especial, o cauim; e uma quarta parte, a análise relacional entre hospitalidade, comensalidade e cervejas tradicionais. Este manuscrito, um ensaio sobre as relações entre a hospitalidade, a comensalidade e algumas bebidas consuetudinárias, visa analisar e esclarecer as conexões sociais e culturais do beber junto, em seus significados simbólicos africanos e sul-americanos.
Referências
- Cassee E. Introduction. In: Cassee E, Reuland R, editores. The Management of Hospitality. Oxford, Oxfordshire: New York Pergamon Press, 1983.
- Hepple J, Kipps M, Thoson J. The concept of hospitality and an evaluation of its applicability to the experience of hospital patients. International Journal of Hospitality Management. 1990:9(4):305–18.
- Brotherton B. Towards a definitive view of the nature of hospitality and hospitality management. International Journal of Contemporary Hospitality Management. 1999:11(4):165–73.
- Lashley C, Morrison, A, editores. In search of hospitality: theoretical perspectives and debates. Oxford: Butterworth-Heinemann, 2000.
- Camargo L O L. Hospitalidade. São Paulo: Aleph, 2004.
- Lashley C, Lynch P, Morrison A, editores. Hospitality: a social lens. Netherlands: Elsevier, 2007.
- Lynch P, Molz J G, McIntosh A, Lugosi P, Lashley C. Theorizing hospitality. Hospitality & Society. 2011:1(1):3–24.
- Montandon A., organizador. O livro da hospitalidade: acolhida do estrangeiro na história e nas culturas. São Paulo: Senac, 2011.
- Bell D. Tourism and hospitality. In: Jamal T, Robinson M, editores. The Sage Handbook of Tourism Studies. Thousand Oaks: Sage Publications Ltd, 2012.
- Lugosi P. Hospitality and organizations: Enchantment, entrenchement and reconfiguration. Hospitality & Society. 2014:4(1):75–92.
- Lombarts A. The hospitality model revisited: developing a hospitality model for today and tomorrow. Hospitality and Society. 2018:8(3):297-311. Doi: 10.1386/hosp.8.3.297_7
- Brotherton B, Wood R. Hospitality and hospitality management. In: Lashley C, Morrison A J. In search of hospitality: Theoretical perspectives and debates. Londres: Butterworth Heinemann, 2000.
- Mauss M. Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. São Paulo: Edições 70, 2008.
- Aristarkhova I. Hospitality - Chora - Matrix – Cyberspace. Filozofski Vestnik. 2002:23(2):27-43.
- Aristarkhova I. Hospitality and the maternal. Hypatia. 2012:27(1).
- Aristarkhova I. Hospitality of the matrix. Columbia University Press, 2012.
- Aristarkhova I. Arrested welcome: hospitality in contemporary art. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2020.
- Irigaray L. A questão do outro. Labrys, estudos feministas. 2002:1-2.
- Freeman R E, Martin K E, Parmar B L. The power of and: responsible business without trade-offs. New York: Columbia University Press, 2020.
- Bauman Z. Modernidade líquida. São Paulo: Zahar, 2000.
- Montanari M. Sistemas alimentares e modelos de civilização. In: Flandrin J L, Montanari M. História da alimentação. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 1996.
- Carneiro H S. Comida e sociedade: uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
- Poulain J P. Sociologias da alimentação: os comedores e o espaço social alimentar. Florianópolis: Editora da UFSC, 2004.
- Boutaud J J. Comensalidade: compartilhar a mesa. In: Montandon A. O livro da hospitalidade. São Paulo: SENAC, 2011.
- Contreras J, Gracia M. Alimentação, sociedade e cultura. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.
- Fischler C. Comensality, society and culture. Social Science Information. 2011:50(3-4):528-548.
- Giacoman C. The dimensions and role of commensality: a theoretical model drawn from the significance of communal eating among adults in Santiago, Chile. Appetite. 2016:107:460-470. Doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.appet.2016.08.116
- Carvalho L G A, Bastos S R, Gimenes-Minasse M H S G. Comensalidade na família nuclear paulistana: 1950 a 2000. Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade. 2017:9(1).
- Raffestin C. Réinventer l´hospitalité. Communications. 1997:65. Doi: https://doi.org/10.3406/comm.1997.1997
- Gotman A. Alcool et hospitalité. In: Bernand C, organizador. Désirs d’ivresse, 72-89. Paris: Autrement, 2000.
- Hemmington N. From service to experience: understanding and defining the hospitality business. The Service Industries Journal. 2007:27(6). Doi: 10.1080/02642060701453221.
- Sobal J, Nelson M K. Commensal eating patterns: a community study. Appetite. 2003:41(2):181-190. Doi: 10.1016/s0195-6663(03)00078-3
- Maciel M E. Cultura e alimentação ou o que têm a ver os macaquinhos de Koshima com Brillat-Savarin? Horizontes Antropológicos. 2001:7(16).
- Grassi M C. Hospitalidade: transpor a soleira. In: Montandon A, organizador. O livro da hospitalidade: acolhida do estrangeiro na história e nas culturas. São Paulo: Senac, 2011.
- Simmel G. The sociology of the meal. In: Frisby D, Featherstone M, editores. Simmel on culture: selected writings. London: Sage, 1997 [1910].
- Carneiro H S. Pequena enciclopédia da história das drogas e bebidas: histórias e curiosidades sobre as mais variadas drogas e bebidas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
- Simoncini J B V B, Tanagino P I D, Celestino S M, Debussi V A Z, Larivoir F N, Raad M L, Vallejo I M, Yung H C. História, memória e inovação tecnológica das cervejarias em Juiz de Fora – MG. ANALECTA - Centro Universitário Academia. 2020:5(5).
- Flack W. American microbreweries and neolocalism: ‘Ale-ing’ for a sense of place. Journal of Cultural Geography. 1997:16(2):37–53.
- Eberts D. Neolocalism and the branding and marketing of place by Canadian microbreweries. In: Patterson M, Hoalst-Pullen N, editores. The geography of beer: regions, environment, and societies. New York: Springer, 2014.
- Standage T. História do mundo em 6 copos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
- Katz B [homepage na internet]. Traces of 13.000-year-old beer found in Israel [acesso em 21 abr. 2019] Disponível em https://www.smithsonianmag.com/smart-news/traces-13000-year-old-beer-found-israel-180970282/
- Liu L, Wang J, Rosenberg D, Zhao H, Lengyel G, Nadel D. Fermented beverage and food storage in 13,000 y-old stone mortars at Raqefet Cave, Israel: investigating Natufian ritual feasting. Journal of Archaeological Science: Reports. 2018:21.
- Novellie L. Kaffir beer brewing: ancient art and modern industry. Wallerstein Lab. Commun. 1968:31(104).
- Rogerson C M, Tucker B A. Commercialization and corporate capital in the sorghum beer industry of Central Africa. Geoforum. 1985:16(4).
- Protz R. Ale-wives. In: Oliver G, editor. The Oxford Companion to beer. New York: Oxford University Press, 2012.
- Mcallister P. Domestic space, Habitus, and Xhosa ritual beer-drinking. Ethnology. 2004:43(2).
- Kuckertz H. Creating order: the image of the homestead in Mpondo social life. Johannesburg: Wits University Press (University of the Witwatersrand), 1990.
- Bourdieu P. Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1977.
- Wolputte S, Fumanti M. Beer in Africa: drinking spaces, states and selves. Zürich: Lit Verlag, 2010.
- Hesse B J. Africa’s intoxicating beer markets. African Studies Review. 2015:58(1).
- Cunha A G. Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi. São Paulo: Melho ramentos, 1989.
- Raminelli R. Da etiqueta canibal: comer antes de beber. In: Venâncio R P, Carneiro H, organizadores. Álcool e drogas na história do Brasil. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2005.
- Pierce G, Toxqui A. Alcohol in Latin America: a social and cultural history. Arizona: University of Arizona Press, 2014.
- Monteleone J [homepage na internet]. Cauim, a bebida ritual dos índios [acesso em 1 jul. 2021]. Disponível em https://www.brasildefato.com.br/2019/09/06/cauim-a-bebida-ritual-dos-indios
- Stradelli E. Vocabulário... Revista do Instituto Histórico e Geographico Brazileiro. 1929:104 (158):5-768.
- Acselrad G, Karam M L, David H M S L, Alarcon S. Consumo de bebidas alcoólicas no Brasil: estudo com base em fontes secundárias. Rio de Janeiro: FLACSO, 2012.
- Lévi-Strauss C. O cru e o cozido – Mitológicas 1. São Paulo: Cosacnaify, 1964.
- Karsten R. The head hunters of Western Amazonas: the life and culture of the Jíbaro indians of Eastern Ecuador and Perú. Elsingfors: Societas Scientiarum Litterarum, 1935.
- Harner M. The Jívaro: people of the Sacred Waterfalls. Berkeley: University of California Press, 1972.
- Acosta J. Historia natural y moral de las Indias. Estudio preliminar y edición del P. Francisco Mateos. Madrid: Atlas, 1954 [1588].
- Castro E V. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 1986.
- Baldus H. Bebidas e narcóticos dos índios do Brasil. Sociologia. 1950:12(2):161-169.
- Silva A B A. A civilização indígena do Uaupés. São Paulo: Missão Salesiana do Rio Negro, 1962.
- Vasconcelos S. Crônica da Companhia de Jesus. Petrópolis: Vozes/MEC, 1977.
- Barghini A. Cauim: entre comida e ebriedade. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum. 2018:13(3):561-571.
- Noelli F S, Brochado J P. O cauim e as beberagens dos Guarani e Tupinambá: equipamentos, técnicas de preparação e consumo. Rev do Museu de Arqueologia e Etnologia. 1998:8:117-128.
- Brochado J P, Monticelli G, Neuman E. Analogia etnográfica na reconstrução gráfica das vasilhas Guarani arqueológicas. Veritas. 1990:35(140):727-743.
- Brochado J P, Monticelli G. Regras práticas na reconstrução gráfica das vasilhas cerâmicas Guarani a partir dos fragmentos. Estudos Ibero-Americanos. 1994:20(2):107-118.
- Brochado J P. What did the Tupinambá cooking in their vessels? Revista de Arqueologia. 1991:6:40-89.
- Assis V S. A classificação da cerâmica Tupinambá através da analogia etnográfica. Anais do VIII Congreso de Arqueología Uruguaya. 1995:455-457.
- Ribeiro B G. Dicionário do artersanato indígena. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.
- Dole G, Gandavo P M. Tratado de Terra do Brasil. Historia da Província de Santa Cruz. São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1980.
- Gatti C. Enciclopédia Guarani-Castellano de Ciências Naturales. Asunción: Arte Nuevo Editores, 1985.
- Noelli F S. Sem Tekohá Não Há Tekó [tese de mestrado]. Porto Alegre: IFCH- PUCRS. (Dissertação de Mestrado); 1993.
- Selwyn T. An anthropology of hospitality. In: Lashley C, Morrison A J. In search of Hospitality: theoretical perspectives and debates. Oxford: Butterworth-Heinemann, 2000.
- Oliveira A C, Santos M M C. No panorama conceitual da hospitalidade, a presença de novos aportes teóricos. In: Anais do VI seminário de pesquisa em turismo do Mercosul. Caxias do Sul: Universidade Caxias do Sul, 2010.
- Staden H. Duas Viagens ao Brasil. São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1974.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 CC Attribution 4.0
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
